O morro não era alto, o caminhão não tão velho, a curva nem tão fechada era, nem o motorista estava assim tão cansado.

Mas a curva após a descida, um instante de distração levou a uma freada brusca que balançou o caminhão, e ao sair repentinamente para o acostamento desnivelado tombou a beira da estrada causando grande estrondo.

Vários morreram neste exato instante em razão do aperto em que se encontravam dentro dos engradados que os transportavam.

Ainda assim a maioria sobreviveu, bastante assustados é verdade e começaram a pular em todas as direções.

O motorista ainda tonto, desligou o caminhão e saiu pela janela, bastante assustado buscando entender o tamanho do problema.

Na movimentada rodovia muitos viram o que aconteceu e imediatamente começaram a parar.

Ao se por de pé o motorista com satisfação viu três homens correndo em sua direção, talvez eles pudessem ajudar até mesmo a desvirar o caminhão, lhe emprestassem um telefone já que o dele deveria estar em algum lugar na bagunçada cabine ou no mínimo lhe dariam uma carona até o posto mais próximo.

Já pensando em como explicar o ocorrido, aguardou os homens que se aproximavam com um sorriso de gratidão, mas eles simplesmente o ignoraram, e passaram correndo por ele, começando imediatamente a perseguição aos frangos que pareciam brotar do meio de um emaranhado de destroços, poeira e penas que se transformara a carroceria.

O motorista pasmem, gritou pedindo que não mexessem na carga, mas ele não foi ouvido.

Outros carros mais pararam, e caça aos frangos ocupou a todos que pegavam o máximo que podiam e levavam em direção aos seus carros, e depois retornavam e recomeçavam juntos a outros que continuavam a chegar.

Uma distinta senhora ao se aproximar do local diminuiu a velocidade para entender o que estava acontecendo.

Parou o seu carro junto aos tantos outros e apesar de estar usando saltos altos partiu também a caça.

Não foi uma tarefa fácil, ao se aproximar da carga foi empurrada, ainda assim conseguiu encurralar uma presa, mas quando foi pegá-la, outro homem fora mais rápido que ela, pegando o frango e colocando sob o braço onde já havia outros dois.

Ela não desistiu, e após entender que além de alcançar o frango era necessário vencer os adversários, ela também empurrou, berrou, brigou e finalmente conseguiu alcançar seu prêmio, levando-o até o carro.

Quando a polícia finalmente chegou a carga já havia sido completamente saqueada, sem exceção, desde os esmagados pelo acidente aos que pareciam mais saudáveis, todos foram levados.

Dos ocupantes do caminhão restou apenas o atordoado motorista.

Naquela mesma noite, estava o motorista no posto da Polícia Rodoviária combinando a ações e horários do guinchamento do seu caminhão no próximo dia.

O corpo agora doía, bem mais do que no momento do acidente, mas a preocupação com o prejuízo, dos custos do conserto do caminhão mais a perda da carga fazia com que ele soubesse que apesar da dor, só havia uma saída, consertar o caminhão o mais rápido possível e voltar para a lida da estrada.

Neste momento a distinta senhora assistia o jornal na TV, enquanto aguardava começar a sua novela.

O jornal mostrava mais um escândalo de corrupção, apresentava nomes, números e fatos incontestáveis de desvio de recursos públicos.

Ela comentou indignada com sua família a tamanha desfaçatez destas pessoas, como podiam agir desta forma, por que não agiam com compaixão respeitando os outros e a sociedade?

O mundo não seria melhor se todos agissem assim?

Todos concordaram com ela, enquanto saboreavam o delicioso frango ensopado.

Pena!

Rodrigo Socal

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