Partiu no dia 3 de maio de 2013, aos 73 anos, cercado do carinho dos filhos, da neta, da primeira esposa, da nora e do genro, justamente a família que ele havia decidido deixar para trás.

Homem honesto de valores sólidos, grande apreciador do matrimônio, casou diversas vezes e alguns casamentos manteve ao mesmo tempo.

Minha maior referência como homem, o super-herói que eu intencionava impressionar e orgulhar. Meu ídolo na infância, ser identificado como filho dele me trazia grande orgulho e satisfação.

Homem de gostos simples e de grande criatividade, inventava estórias com muita facilidade e impressionava pela eloquência narrativa.

Fazia meu mundo parecer simples e seguro, com ele por perto eu nada temia. Não exigia muito, gostar do que ele gostava era prazeroso e natural.

Ensinou que a violência é parte integrante de um homem e saber o quando usá-la é que diferencia os bons dos maus.

Andava sempre altivo e seguro e eu ao seu lado instintivamente imitava todos seus gestos.

Não chorei sua morte, a confusão que se criou após sua partida me tomou o foco, embora não tenha deixado muito, o pouco que deixou aguçou a cobiça daquelas que ele sustentou e que no final de vida o deixaram sozinho.

Meses depois comecei a lamentar as tantas vezes que cansado ou ocupado, o deixei esperando minha visita.

Ele parecia eterno, mas no final quando eu e ele já sabíamos que a partida estava próxima, sequer tive maturidade para lhe perguntar que atitudes gostaria que fossem tomadas.

Combati contra todas e para nenhuma permiti que ficasse uma única moeda. Atitudes que eu acredito ele não aprovaria, mas ainda assim o fiz, com mesquinharia e revanchismo, comportamentos que por certo não foi com ele que aprendi.

Há poucos anos, andando por uma rua movimentada do centro da cidade, cruzei com ele caminhando no sentido contrário, após o susto, me identifiquei no reflexo de um prédio espelhado, o mesmo caminhar, a mesma postura o mesmo semblante.

Procurei evitar seus erros (afinal já tenho os meus próprios) e repetir suas vitórias, falhei em ambos, mas trilhei meu próprio caminho do qual tenho certeza que ele se orgulharia, talvez não pelos motivos certos.

Tenho severas dúvidas se conseguirei alcançar a minha salvação, mas tenho certeza de que se a misericórdia de Deus for maior que minhas faltas e por um descuido eu lá chegar com ele vou me encontrar.

Todos temos vocações distintas, a dele talvez tenha sido a de ser Pai, meu Pai.

 

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